O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, anunciou nesta segunda-feira (6) sua renúncia ao cargo Executivo e à liderança do Partido Liberal. Trudeau afirmou ainda que ficará no poder até que seu partido encontre um substituto para ele.
Em pronunciamento no início da tarde desta segunda, Trudeau também adiou a volta do Parlamento canadense em 2025, para 24 de março.
O Canadá tem 38,7 milhões de habitantes, inferior ao estado de São Paulo, distribuídos em mais de 9,9 milhões de metros quadrados —o segundo maior território do mundo, atrás apenas da Rússia.
O sistema de governo canadense é parlamentarista. O Partido Liberal, de Trudeau, não obteve maioria nas eleições de 2021 e precisa compor com outros partidos para governar.
“Os canadenses merecem um candidato ‘real’ nas próximas eleições. Ficou óbvio para mim que, pelas batalhas internas no partido, eu não serei a melhor opção nesta eleição”, afirmou Trudeau.
Trudeau sai de cena para tentar “salvar” as chances de vitória de seu partido, os liberais, nas próximas eleições legislativas, marcadas para 20 de outubro. Há mais de um ano pesquisas de intenção de voto mostram os conservadores à frente na corrida eleitoral. A permanência do premiê no cargo até a escolha de um substituto também é encarada como importante para reverter esse cenário.
A suspensão do Parlamento dá tempo para os liberais “respirarem”. Até então, o Parlamento canadense retomaria as atividades em 27 de janeiro, e os partidos de oposição planejavam derrubar o governo de Trudeau assim que pudessem, provavelmente no final de março. Com a volta programada para 24 de março, uma moção de desconfiança –o instrumento para contestar o governo atual– seria levada adiante provavelmente em maio.
Com a renúncia, novos apelos devem ocorrer pelo adiantamento do pleito para instituir um governo capaz de lidar com a administração do presidente eleito dos EUA, Donald Trump, pelos próximos quatro anos.
“Sou um lutador. Importo-me profundamente pelos canadenses e por este país, e sempre me motivarei por esse interesse. Apesar disso, o parlamento está paralisado há meses após o maior mandato de minoria deste país”, disse o premiê.
Trudeau, de 53 anos, chegou ao poder em 2015 após 10 anos de governo do Partido Conservador. Inicialmente, recebeu forte apoio, mas se tornou impopular entre os eleitores nos últimos anos devido a uma série de questões, incluindo o aumento vertiginoso dos preços dos alimentos e da habitação, e diante da imigração crescente. (Leia mais sobre a crise do governo Trudeau abaixo)
“Se tenho um arrependimento [no meu mandato], gostaria que fôssemos possíveis de mudar a maneira com que escolhemos nossos representantes (…) para que as pessoas gastassem mais tempo olhando coisas que têm em comum em vez de se dividir. (…) É hora de nos reunirmos e tentar encontrar semelhanças”, disse Trudeau.
O premiê também falou sobre a renúncia da vice-primeira-ministra, Chrystia Freeland, em dezembro –que agravou a crise de seu governo. Trudeau afirmou que gostaria que ela tivesse continuado no governo e que pudesse assumir o cargo em seu lugar.
O primeiro-ministro discutiu com o ministro das Finanças, Dominic LeBlanc, se ele estaria disposto a assumir o cargo de líder interino e primeiro-ministro, disse uma fonte ao “The Globe and Mail”, acrescentando que isso seria impraticável se LeBlanc planeja concorrer à liderança.
Crise
A crise envolvendo o mandato de Trudeau começou em dezembro, quando parlamentares pediram a ele que renuncie ao cargo após a vice-premiê e ministra das Finanças, Chrystia Freeland, pedir demissão.
Freeland afirmou que sua renúncia ocorreu por “diferenças” com Trudeau sobre como enfrentar a ameaça de Trump de impor tarifas de 25% aos produtos canadenses. A demissão de Freeland mergulhou o Canadá em uma crise política.
Com isso, o governo de Trudeau entrou em uma de suas maiores crises desde que ele assumiu o poder, em novembro de 2015. Além disso, o primeiro-ministro se expôs a um momento de fragilidade a menos de um ano para as eleições canadenses.
Veja os fatores que contribuíram para essa situação:
- Aumento do custo de vida da população
- Perda de popularidade: atualmente, pesquisas apontam que o Partido Conservador, de oposição, deve vencer as próximas eleições.
- Perda de apoio no próprio Partido Liberal
- Desempenho ruim das contas do governo: para agravar a situação, dados financeiros divulgados em dezembro apontam que as contas do governo fecharam com déficit de US$ 43,4 bilhões (R$ 267 bilhões). O número veio 50% acima do projetado. A previsão de crescimento do PIB também foi reduzida de 1,9% para 1,7%.
- Ameaça de taxação por parte de Trump: o presidente eleito americano anunciou em dezembro a intenção de impor tarifas de até 25% aos produtos canadenses. O principal parceiro comercial do Canadá são justamente os Estados Unidos, que representam 75% de suas exportações.
- “Diferenças” na forma de abordar a ameaça trumpista de sobretaxar produtos canadenses levou à saída da ministra das Finanças, Chrystia Freeland.
A turbulência política ocorre em um momento difícil para o Canadá no cenário internacional. O presidente eleito dos EUA, Donald Trump, ameaçou impor tarifas de 25% sobre todos os produtos canadenses se o governo não conter o que Trump chama de fluxo de migrantes e drogas para os EUA — embora o fluxo para os EUA seja menor que o do México, a quem Trump também ameaçou.
O Canadá é um grande exportador de petróleo e gás natural para os EUA, que também dependem de seu vizinho do norte para aço, alumínio e automóveis.
Fonte: G1