21/11/2024
Brasil Destaque Saúde

Pacientes são contaminados com HIV após transplantes de órgãos pelo SUS no RJ

Pacientes que receberam órgãos transplantados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no Rio de Janeiro foram infectadas por HIV. As informações foram confirmadas pela Secretaria de Estado de Saúde (SES).

Segundo as SES, o caso é “sem precedentes e inadmissível”. De acordo com o Ministério da Saúde, que também se manifestou, até o momento, houve a confirmação de infecção por HIV de dois doadores e seis receptores, que testaram positivo.

Segundo informações, um laboratório privado contratado por meio de uma licitação emergencial em dezembro de 2023 era responsável pelos exames e teria falhado na testagem dos órgãos.

A ministra da Saúde, Nísia Trindade, determinou uma auditoria no braço fluminense do Sistema Nacional de Transplantes (SNT).

A situação veio à tona ontem, em reportagem da rádio Band News FM. Mas as infecções foram descobertas em 10 de setembro, quando um dos pacientes transplantados deu entrada em um hospital ao apresentar sintomas neurológicos relacionados ao HIV — e testou positivo. Ele não tinha o vírus antes de receber um coração novo, no fim de janeiro.

Investigação conjunta da Polícia Civil fluminense e do Ministério da Saúde chegou a dois exames realizados pelo PCS Lab Saleme que não teriam acusado o vírus. O laboratório teve o mais recente contrato com a SES-RJ, de R$ 11 milhões, assinado em dezembro de 2023. No entanto, a empresa já prestava serviço para a Secretaria de Saúde desde 2022 — ao todo, cerca de R$ 20 milhões foram repassados desde então à empresa de análises clínicas.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), por meio da Vigilância Sanitária local, interditou o PCS Lab Saleme ontem mesmo, até que as investigações sejam concluídas. Com isso, todos os exames passam a ser feitos no Hemorio, utilizando testes da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Por recomendação do Ministério, todos os exames realizados pelo laboratório serão refeitos.

Nísia, por sua vez, emitiu nota no sentido de acalmar a população, assegurando que o sistema de transplantes do SUS é seguro e que este é um episódio isolado. “Prestaremos toda assistência a essas pessoas e seus familiares. Quero aqui, além da solidariedade, reforçar o compromisso do Ministério de garantir a segurança, a efetividade e a qualidade que são marcas indiscutíveis do Sistema Nacional de Transplantes do Brasil”, afirmou a ministra, em vídeo postado nas rede sociais.

Em nota, o Ministério da Saúde reforçou que o SNT é “reconhecido como um dos mais transparentes, seguros e consolidados do mundo”. “Existem normas rigorosas que visam a proteger tanto os doadores quanto os receptores, garantindo que os transplantes realizados no país mantenham um alto nível de confiabilidade”.

Parentesco

O PCS Lab Saleme é sediado em Nova Iguaçu, município da Baixada Fluminense, e tem como um dos proprietários Matheus Sales Teixeira Bandoli Vieira, primo do ex-secretário de Saúde do Rio de Janeiro Doutor Luizinho, que é líder do PP na Câmara dos Deputados. Por meio de nota, o parlamentar disse que “lamenta veementemente o ocorrido” e que deseja “punição exemplar para os responsáveis”.

Luizinho também negou ter fechado qualquer contrato com laboratórios na gestão que fez à frente da SES-RJ. “É muito triste, como um dos maiores defensores dos transplantes no país — minha vida pública está marcada pela ampliação do número de transplantes no Estado —, ver casos graves como esse. Espero punição aos responsáveis, independentemente de quem for”, diz a nota do deputado.

Entretanto, a irmã do parlamentar, Débora Lúcia Teixeira, trabalha na Fundação Saúde, autarquia do governo fluminense que celebra os contratos com os prestadores de serviço para a SES-RJ.

Também em nota, o PCS Lab Saleme afirmou que abriu sindicância interna para apurar as responsabilidades do caso envolvendo diagnósticos de HIV em pacientes transplantados. De acordo com o laboratório, esse episódio é “sem precedentes na história da empresa, que atua no mercado desde 1969”.

Com informações do portal Correio Braziliense

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