O ex-presidente do Estados Unidos Donald Trump afirmou nesta segunda-feira (8/8) que sua mansão no Estado da Flórida foi alvo de uma operação de agentes da polícia federal americana (FBI) e que eles inclusive teriam arrombado um cofre de sua casa. Em um comunicado, Trump disse que a residência de Mar-a-Lago, em Palm Beach, foi “ocupada por um grande grupo de agentes do FBI”. O ex-presidente estava em Nova York no momento da operação, informou a emissora CBS News.
Segundo fontes, a busca fez parte de uma investigação sobre documentos oficiais que podem ter sido violados pelo ex-presidente republicano. Mas tanto o FBI quanto o departamento de Justiça dos EUA não comentaram a operação relatada por Trump. “São tempos sombrios para nossa nação. Nada assim jamais aconteceu com um presidente dos Estados Unidos no passado”, afirmou o ex-presidente através de uma nota, acrescentando que tem cooperado com todas as autoridades relevantes e, portanto, a “incursão não anunciada em minha residência não era necessária ou apropriada”. Trump disse que se trata de “má conduta acusatória” e de “uma armação do sistema de justiça” para impedi-lo de possivelmente concorrer à Casa Branca em 2024. “Tal ataque só poderia ocorrer em países falidos do Terceiro Mundo”, disse o republicano. “Infelizmente, a América se tornou um desses países, corrupto em um nível nunca visto antes. Eles até arrombaram meu cofre!”
Arquivos de Trump
A CBS News afirmou que a execução do mandado de busca pelo FBI na propriedade de Trump estava relacionada a uma investigação sobre documentos de Trump e o Arquivo Nacional. Os ex-presidentes americanos são obrigados pela Lei de Registros Presidenciais (PRA, na sigla em inglês) a transferir todas as suas cartas, documentos de trabalho e e-mails para o Arquivo Nacional, agência do governo americano que preserva os registros presidenciais. Uma fonte não identificada disse à CBS que o Serviço Secreto — que faz a proteção do ex-presidente — foi notificado pouco antes do mandado ser cumprido por volta das 10h na segunda-feira (horário local, 11h em Brasília), e que os agentes ajudaram os investigadores do FBI.
Especialistas dizem que para uma operação assim receber autorização judicial é preciso haver alguma suspeita de crime praticado, mas que isso não significa que ela resultará em indiciamento. Várias caixas foram levadas, disse a fonte, acrescentando que nenhuma porta foi derrubada e que a operação foi concluída no final da tarde. Em fevereiro, o Arquivo Nacional havia pedido ao Departamento de Justiça que investigasse Trump por possíveis irregularidades na forma como o ex-presidente guarda documentos oficiais. O Arquivo Nacional diz ter recuperado em uma operação em fevereiro 15 caixas em Mar-a-Lago, algumas das quais continham registros confidenciais.
A agência disse ao Congresso americano que as caixas de Trump incluíam “itens marcados como informações sigilosas de segurança nacional”. Além disso, Trump é acusado de ter rasgado ilegalmente muitos documentos. Alguns pedaços de folha precisaram ser colados novamente, segundo a agência estatal. Na época, Trump reagiu afirmando que a acusação era uma “notícia falsa”. Um conselheiro de Trump de alto escalão não identificado confirmou à CBS que a busca do FBI nesta segunda-feira estava relacionada aos registros presidenciais.
A fonte acrescentou: “Eles [agentes do FBI] acabaram de sair, e saíram com muito pouco”. Em um livro a ser publicado, Confidence Man, a jornalista do New York Times Maggie Haberman alega que funcionários da Casa Branca ocasionalmente encontravam pedaços de papel entupindo vasos sanitários e acreditavam que Trump era o responsável. A jornalista obteve fotos que, segundo ela, mostram papéis em um vaso sanitário da Casa Branca.
Corrida eleitoral
A operação na mansão de Trump ocorre em meio a notícias de que o republicano se prepara para voltar a concorrer à Presidência em 2024. A notícia sobre a operação do FBI mobilizou alguns dos apoiadores de Trump. Um grupo de fãs do ex-presidente se reuniu do lado de fora de Mar-a-Lago para protestar contra a operação. O líder da minoria republicana na Câmara dos Deputados, Kevin McCarthy, disse: “Já passou do limite. O Departamento de Justiça atingiu um estado intolerável de politização bélica”.
Outro republicano apoiador de Trump, o senador da Flórida Marco Rubio, tuitou: “Usar o poder do governo para perseguir oponentes políticos é algo que vimos muitas vezes nas ditaduras marxistas do terceiro mundo”. Um funcionário de alto escalão da Casa Branca disse à CBS que o governo do presidente Joe Biden não foi avisado da busca do FBI. “Nenhum conhecimento prévio”, disse o funcionário, que não estava autorizado a falar publicamente sobre o assunto. “Alguns ficaram sabendo pela imprensa, outros pelas redes sociais.” A Casa Branca disse que está limitando suas interações com funcionários do departamento de Justiça para evitar qualquer indício de pressão política ou parcialidade. Biden prometeu durante sua campanha na Casa Branca ficar fora dos assuntos do órgão. O presidente democrata e sua família aguardam uma decisão dos promotores federais sobre um possível indiciamento de seu filho, Hunter Biden, por evasão fiscal e outras acusações.