O Ministério Público de São Paulo (MPSP) apura uma denúncia envolvendo uma série de “desmandos” que estariam ocorrendo dentro da fundação mantenedora da tradicional Faculdade de Medicina da Santa Casa.
Entre as suspeitas sob investigação estão a chantagem de diretores, gastos exorbitantes com cartão de crédito corporativo, uso de funcionários para fins particulares e até desvios de recursos para campanhas políticas.
O procedimento foi aberto pela promotora Danielle Castanheira de Oliveira no dia 23 de fevereiro, a partir de uma denúncia feita por um coronel da reserva da Polícia Militar que integra o Conselho Fiscal da Fundação Arnaldo Vieira de Carvalho, entidade que mantém a Faculdade de Medicina da Santa Casa.
O principal alvo da denúncia é o presidente do Conselho Curador da fundação, o advogado e ex-deputado estadual Antonio Cleidenir Ramos, conhecido como Tonico Ramos (foto em destaque), que foi presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), entre 1989 e 1991, e chegou a ser governador interino do estado nesse período.
Dossiê e cartão corporativo
Segundo a denúncia recebida pelo MPSP, Tonico Ramos estaria usando um dossiê sobre supostas irregularidades envolvendo o presidente da fundação, João Clímaco Penna Trindade, para pressioná-lo a demitir antigos empregados e indicar substitutos.
Uma das pessoas indicadas é Antônio Carlos Forte, ex-superintendente da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia, que administra os hospitais da Santa Casa na capital paulista. Em 2019, Forte foi alvo de uma ação de improbidade administrativa por suposto enriquecimento ilícito e dano ao erário.
A denúncia investigada pela Promotoria diz ainda que Tonico Ramos usava o cartão de crédito corporativo que tinha acesso para gastos particulares exorbitantes com bebidas, refeições e serviços, valendo-se do fato de que o responsável pela fiscalização das despesas seria um dos nomes indicados por ele.
Entre os gastos suspeitos está um jantar que Tonico Ramos teria oferecido em sua residência, para cerca de vinte convidados, totalmente custeado pela fundação. Indicado por ele, o responsável pela fiscalização das despesas está entre os outros sete dirigentes investigados.
Eleições
Ainda de acordo com a denúncia, os recursos da fundação teriam sido usados também para ajudar a campanha de dois candidatos a deputado estadual no ano passado. Um dos funcionários da entidade teria sido obrigado a produzir santinhos e cartas de apresentações para pessoas que constavam dos cadastros da fundação – uma violação da Lei Geral de Proteção de Dados.
Além disso, funcionários teriam sido convocados para participar de reuniões políticas com os candidatos, também durante o horário de trabalho.
A promotora deu prazo de 20 dias para que a Fundação Arnaldo Vieira de Carvalho apresente uma série de documentos referentes à administração da entidade.
A fundação apenas informou, por meio de nota, que recebeu o pedido do MPSP e que irá investigar as suspeitas internamente.
“No âmbito da Fundação serão tomadas às providências previstas no Código de Ética e Conduta, com a instauração imediata de procedimentos administrativos investigatórios e demais providências cabíveis que se fizerem necessárias para plena elucidação dos fatos”, diz a entidade.