A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) reportou um prejuízo de R$ 1,7 bilhão no primeiro trimestre de 2025, mais que o dobro do registrado no mesmo período do ano anterior, quando as perdas foram de R$ 801 milhões. Esse é o pior resultado trimestral desde 2017, refletindo uma combinação de queda de receitas, aumento de despesas e desafios operacionais.
A receita líquida da estatal caiu 12%, totalizando R$ 3,9 bilhões. O segmento de postagem internacional foi particularmente afetado, com uma redução de 58%, somando R$ 393 milhões. As receitas financeiras também diminuíram 46%, alcançando R$ 50 milhões, devido à menor rentabilidade das aplicações financeiras da empresa.
Por outro lado, os custos operacionais aumentaram. O custo com serviços prestados subiu 3,1%, atingindo R$ 4 bilhões. As despesas com pessoal cresceram 8,6%, chegando a R$ 2,7 bilhões, impulsionadas por um reajuste salarial de 4,11% para mais de 55 mil empregados e uma gratificação de 70% sobre as férias, conforme o Acordo Coletivo de Trabalho de 2025.
O Tribunal de Contas da União (TCU) identificou possíveis irregularidades contábeis nos balanços dos Correios. Um relatório técnico aponta que a estatal reduziu artificialmente seu prejuízo de 2023 ao reverter uma provisão de R$ 1,032 bilhão relacionada ao pagamento de adicional de periculosidade a funcionários. A reversão foi baseada em uma liminar judicial, antes do desfecho do processo, e transformou a dívida em um valor simbólico de R$ 18. Auditores do TCU recomendam que a empresa refaça sua contabilidade em um prazo de 90 dias.
A crise financeira tem afetado a operação dos Correios. Funcionários relatam falta de materiais básicos, como fita adesiva e papelão, além de atrasos nos pagamentos a fornecedores e problemas na manutenção de agências. Em algumas localidades, há escassez de carteiros, obrigando os moradores a retirarem suas correspondências diretamente nas agências.
Em resposta, a empresa anunciou medidas para conter despesas e modernizar sua infraestrutura. Entre as ações estão o compartilhamento de unidades operacionais, revisão de contratos, otimização da malha logística e busca por investimentos internacionais voltados à inovação tecnológica. A estatal também lançou um marketplace próprio e desenvolveu novas soluções para o setor público e clientes do comércio eletrônico.
Apesar dos desafios, os Correios afirmam que sua natureza estatal e a proteção legal impedem a descontinuidade dos serviços, garantindo a estabilidade e continuidade das atividades da empresa.