04/05/2025
Brasil

Aposentados da zona rural foram os mais prejudicados em esquema bilionário de fraudes no INSS

Uma investigação da Polícia Federal (PF) em conjunto com a Controladoria-Geral da União (CGU) revelou um esquema bilionário de fraudes no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) que atingiu duramente aposentados da zona rural em todo o país. Entre 2019 e 2024, foram identificados descontos indevidos em benefícios previdenciários que somam cerca de R$ 6,3 bilhões. Desse total, ao menos R$ 2,87 bilhões foram subtraídos de beneficiários que vivem em áreas rurais — o equivalente a 67% das vítimas.

O esquema envolvia entidades associativas que realizavam descontos mensais diretamente na folha de pagamento dos aposentados sem qualquer autorização prévia. As associações alegavam oferecer serviços ou benefícios aos associados, como assistência jurídica ou seguros, mas grande parte delas sequer possuía estrutura para tal. Em muitos casos, os aposentados sequer tinham conhecimento da suposta filiação.

Entre as principais instituições envolvidas está a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), que, segundo a apuração, recebeu sozinha mais de R$ 2,1 bilhões em repasses durante o período investigado. As irregularidades ocorriam com o aval de servidores do próprio INSS, que permitiam o registro automático dos descontos nas aposentadorias, mesmo sem a devida autorização do beneficiário.

Os principais alvos do golpe foram idosos de regiões remotas, com pouco acesso à internet ou a serviços presenciais do INSS, o que dificultava a contestação dos descontos. Em 186 municípios analisados, especialmente nos estados do Maranhão e Piauí, mais da metade dos aposentados foi vítima das cobranças indevidas.

Diante das evidências, cinco autoridades do INSS foram afastadas de suas funções e o então ministro da Previdência, Carlos Lupi, pediu demissão. Cerca de R$ 1 bilhão já foi recuperado em bens e valores ligados ao esquema, segundo a PF.

Em resposta ao escândalo, o governo federal anunciou medidas para reforçar os mecanismos de fiscalização e garantir o ressarcimento aos aposentados prejudicados. Também foi protocolado um pedido de abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no Congresso Nacional para investigar com mais profundidade as fraudes na autarquia.

A recomendação às vítimas é que verifiquem detalhadamente os extratos de pagamento dos benefícios e denunciem qualquer desconto indevido. O atendimento pode ser feito presencialmente nas agências do INSS ou pelos canais oficiais como o aplicativo Meu INSS e a central 135.

O caso escancarou falhas graves nos mecanismos de controle da Previdência Social e levanta um alerta sobre a vulnerabilidade dos aposentados da zona rural frente a esquemas fraudulentos.

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