Estudantes do ensino médio de uma escola de Rio Claro (SP) criaram uma prótese de aréola que pode ajudar a recuperar a autoestima de mulheres que retiraram o seio por causa do câncer de mama.
O projeto ganhou prêmio em uma das mais importantes feiras de ciência do Brasil e também foi publicado em uma revista científica internacional (veja mais abaixo).
O câncer de mama é o segundo tipo de câncer mais comum no Brasil. Segundo o Instituto Nacional de Câncer, para cada ano do triênio 2023-2025 são estimados 73.610 casos novos, o que representa uma taxa ajustada de incidência de 41,89 casos por 100 mil mulheres.
Dados da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) apontam que em 70% dos casos de câncer de mama diagnosticados no país a mulher passa por uma mastectomia (remoção total da mama).
Grande parte dessas mulheres faz reconstrução da mama, mas ela não é completa e a paciente acaba ficando sem a aréola.
“Muitas mulheres relataram o quão difícil era se olhar no espelho após tomar um banho, por exemplo, quão era difícil se sentir ela mesma. Não poder se olhar no espelho sem lembrar da dor que foi lutar com essa doença e ainda sair perdendo uma parte que é tão importante para a mulher se sentir uma mulher”, contou a estudante Júlia Reis Marques.
Ela e outras duas alunas da escola Puríssimo Coração de Maria desenvolveram uma prótese de silicone compatível com a pele humana. O projeto recebeu o nome de Afrodite que na mitologia grega é a deusa do amor e da beleza.
Empatia e tecnologia
O projeto é a perfeita união entre o humano e tecnológico. Juntou a empatia das meninas que se sensibilizaram com a situação de dezena de milhares de brasileiras, a tecnologia da impressão 3D e ainda a colaboração de tatuadores que ajudaram a dar um aspecto natural ao produto.
“Nós buscamos todas as ferramentas que eram necessárias pra fazer a ideia dar certo, buscamos tecnologia que fosse possível fazer o processo de preparo manual e gerar o molde na impressora 3D. Foi preciso ter que modificar a impressora, colocar um bico mais fino, um bico injetor um pouco mais sensível para que não ficasse aquela peça parecendo impressa”, explicou o professor responsável pelo projeto, Fillipi Benevenuto Ongarelli.
Pra chegar nesse material mais flexível e mais próximo da realidade, as jovens pesquisadoras buscaram um material que pudesse se adaptar ao corpo da mulher.
“A gente encontrou silicones que são feitos basicamente da junção de dois materiais. O problema deles foi justamente a textura, por mais que eles peguem certinho as protuberâncias do nosso molde, eles acabaram ficando mais rígidos do que o necessário. Então, fomos atrás de silicones que fossem usados diretamente na pele humana e que fossem hipoalérgicos e encontramos o silicone de próteses teatrais que é o que a gente está usando atualmente”, disse a estudante Patrícia Dário Bertasso.
Com esse material, depois de moldadas, as próteses de mamilo saem praticamente transparentes e as adolescentes buscaram o apoio de tatuadores para darem a cor ideal ao material.
“A gente buscou ajuda de vários lugares que fazem o processo de micro pigmentação para ver qual ficaria mais próximo do real e a gente acabou entrando numa cultura de diversas cores, tons, modelos. Com isso, a gente acaba estudando diversas raças. O Brasil é um país extremamente vasto então acaba gerando diversos modelos diferentes e acho que isso acabou deixando mais rico o trabalho”, afirmou o professor.