Bonecas hiper-realistas, com aparência idêntica à de recém-nascidos, que têm nome, certidão de nascimento, enxoval completo e até consultas médicas fictícias. Esse é o universo dos chamados bebês reborn, um fenômeno que vem ganhando força nas redes sociais e levantando discussões sobre saúde emocional e os limites entre o entretenimento e a fuga da realidade.
A popularização dos reborns, que podem custar até R$ 9,5 mil, explodiu com a ajuda de influenciadoras digitais e celebridades como Gracyanne Barbosa e Britney Spears, que compartilham vídeos embalando, alimentando e interagindo com seus “filhos de silicone”. Em muitos casos, o apego beira a maternidade real.
Para especialistas, o tema exige atenção, mas sem julgamentos precipitados. “Não dá para patologizar automaticamente. É preciso entender o contexto de cada pessoa”, explicou o psicólogo Marcelo Santos, da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Segundo ele, o contato com essas bonecas pode representar uma forma legítima de expressão emocional, contribuindo para o relaxamento, criatividade e até servindo como ferramenta terapêutica.
A psicóloga Rita Calegari, do Hospital Nove de Julho, destaca que o limite entre o hobby saudável e um possível transtorno está no grau de envolvimento. “O alerta acende quando o bebê reborn começa a substituir vínculos reais ou a ocupar o espaço de experiências concretas, como relações familiares e sociais”, pontua.
Além do aspecto psicológico, há também um apelo de consumo e marketing digital. Criadores de conteúdo transformam os bonecos em personagens de narrativas elaboradas, que geram engajamento, monetização e até venda de produtos associados.
A moda, portanto, vai muito além de bonecas realistas. Ela toca temas sensíveis como solidão, desejo de maternidade, perdas emocionais e até compulsões. Para os profissionais da saúde mental, o importante é observar os sinais: quando o uso do reborn agrega à vida cotidiana, pode ser positivo. Mas quando vira substituto de relações humanas, é hora de buscar ajuda.
O fenômeno é recente, mas já ocupa espaço nos consultórios, nas redes e nas vitrines. Resta agora observar até onde essa tendência irá — e como a sociedade lidará com suas camadas mais profundas.
Fonte: Estadão, UOL e Terra