A brasileira Caroline Mendes, de 20 anos, mora em Israel desde os 14 anos. De família judia no Ceará, ela resolveu ficar no país após concluir os três anos do ensino médio por lá. Caroline começou a cumprir o serviço militar aos 18 anos, etapa que é obrigatória também para mulheres. Dois anos depois, a jovem vive a rotina de uma militar em guerra.
Caroline estava na ativa como soldado do exército israelense quando o grupo extremista Hamas bombardeou Israel, deixando centenas de mortos e milhares de feridos no sábado, 7 de outubro. Ela integra as equipes de resgate e tem sido convocada para atuar como combatente.
Desde o início do conflito, Carolina tem se deslocado para outras bases militares. O contato com a mãe e as irmãs é frequente para dar notícias e tranquilizar os familiares. “Minha cabeça está bem cheia, ainda estou processando o que está acontecendo. Ainda tenho meu namorado, que está em casa, e desde sábado está indo em enterros de amigos. A gente não tem tempo de se lamentar porque está batalhando em uma guerra”, declarou a jovem.
“O meu maior objetivo é fazer Israel continuar existindo. Eu estou aqui pelo povo de Israel, pela história, para não se repetir o holocausto”, destacou Caroline. Ela revelou, inclusive, que não pretende voltar ao Brasil.
Caroline informou que acordou, no último sábado, com ligações da comandante, mas pensou que se tratava de algum bombardeio. “Achei que ela estava ligando só por preocupação, mas quando liguei a TV, me dei conta do que estava acontecendo. Me vi como se estivesse em um filme. Gente morrendo, desaparecida, sendo sequestrada”, lembrou a jovem.
Ela disse que a comandante pediu que ela fizesse uma mala para um mês. A base onde ela servia, em Gaza, foi atacada pelo Hamas, e morreram sete pessoas. “Temos que estar preparados para tudo, o tempo todo. Todo mundo que está em Israel perdeu alguém. Se todo mundo parar para chorar, o país já seria do Hamas”, disse a cearense.
Cearense, judia e cidadã israelense
Carolina vem de uma família de judeus perseguidos na Europa durante a Segunda Guerra Mundial. Ela é uma das cinco filhas da comerciante Izabel Mendes, que atualmente mora em São Paulo.
Quando vieram para o Brasil, os avós de Izabel chegaram por Recife e acabaram se estabelecendo em Sobral, cidade do interior do Ceará. Izabel nasceu quando a família já morava em Fortaleza. Ela se mudou para São Paulo depois que os pais se divorciaram.
Carolina nasceu no período em que Izabel resolveu morar na capital cearense por uns tempos. E cresceu em São Paulo, quando a mãe voltou. Mas os vínculos com Fortaleza permaneceram, com muitos familiares que continuam vivendo no Ceará.
A família preservou as raízes e o judaísmo como religião. Por esses vínculos, uma irmã de Carolina já tinha ido a Israel cursar o ensino médio antes dela. Ela fez o mesmo caminho quando tinha 14 anos, contemplada por um programa de estudos para descendentes de judeus.
Como estudante, Carolina morava na escola durante a semana e ia para Tel Aviv nos fins de semana, onde ficava com a irmã mais velha. Ela conquistou a dupla cidadania, sendo reconhecida como brasileira e israelense. E quis continuar vivendo em Israel depois de concluir os três anos de estudos. Quando ela tomou essa decisão, já estava na companhia de duas irmãs: Renata e Bianca.
Nos últimos anos, ela tem tido vários lares. Carolina mora em bases militares desde que entrou para o exército israelense. Quando vem ao Brasil, quase uma vez por ano, tem a casa da mãe para visitar, em São Paulo. De acordo com Izabel, a filha prefere Fortaleza, onde reencontra parte da família materna.
Contatos durante o conflito
A base onde Carolina estava lotada fica próxima à fronteira da Faixa de Gaza. O local foi fortemente atingido no dia dos primeiros ataques do grupo Hamas, no sábado (7).
“A sorte foi que ela estava de folga exatamente no dia do ataque. Então ela foi chamada com urgência em uma outra base. Ela só sabia falar isso: ‘mãe, eu perdi muitos amigos’. E eu dizia: ‘Minha filha, calma. Quem sobreviveu vai precisar de você’”, relata Izabel Mendes.
Carolina criou um grupo no WhatsApp para atualizar a mãe e as irmãs com frequência. É assim que ela envia fotos e vídeos para tranquilizar a família. Segundo Izabel, o contato dura cerca de cinco minutos por dia porque ela não tem sempre acesso ao celular.
“Ela me passa segurança o tempo inteiro, é impressionante. Ela tá bem, ela tá firme. Não sei em que momento vai cair a ficha dela de que ela já faz parte da história do mundo. Não sei em que momento, mas que seja em um momento de paz, de tranquilidade, em que ela possa me dar aquele abraço quentinho de novo”, diz a mãe, emocionada.
As duas irmãs de Carolina que também moram em Israel têm buscado o bunker mais próximo para se proteger de ataques. A família se comunica todos os dias. Carolina dá notícias sempre que pode. “A gente tem que dizer ‘eu te amo’ toda hora. As pessoas têm que saber que existe amor nesse mundo”, conta Izabel.
Entre preocupações e esperas por notícias, a mãe de Carolina traz sempre uma mensagem de gratidão por testemunhar a coragem da filha. “Ela é uma menina alegre, divertida, corajosa. Eu sou uma mãe extremamente orgulhosa dela e de todas as filhas que eu criei. Graças a Deus, são todas mulheres fortes”, conclui a comerciante.