24/11/2024
Esportes Polícia

Áudios, vídeos e mensagens revelam como funcionava a manipulação de apostas no futebol

Veja os detalhes do escândalo de manipulação em apostas de jogos no futebol brasileiro. Um grupo criminoso aliciava jogadores e combinava lances em campo para beneficiar um grupo de apostadores. O caso vem sendo investigado pela Operação Penalidade Máxima, comandada pelo Ministério Público de Goiás.

O material faz parte da investigação do Ministério Público de Goiás sobre a manipulação de apostas em jogos de futebol — no Campeonato Brasileiro das séries A e B de 2022 e também em alguns jogos de estaduais deste ano.

Segundo os promotores, o grupo investigado era liderado por Bruno Lopez, que se apresentava como empresário de jogadores. E os suspeitos se dividiam em 2 núcleos:

o dos apostadores: que aliciavam atletas para forçar lances durante os jogos. E ainda faziam as apostas nos sites;
o dos financiadores: que forneciam dinheiro para os pagamentos dos jogadores aliciados.

A investigação começou em novembro de 2022. O presidente do Vila Nova, de Goiânia, descobriu que jogadores do clube estavam sendo aliciados pelo grupo de apostadores antes de um jogo contra o Sport pela série B do Campeonato Brasileiro. Ele juntou provas da tentativa de manipulação e procurou os promotores que combatem o crime organizado no estado.

Jorge Hugo Bravo, presidente do clube e oficial da Polícia Militar, descobriu que o jogador Marcos Vinícius Alves Barreira, apelidado de Romário, tinha sido aliciado. Em depoimento aos promotores, o atleta contou como foi a proposta.

Promotor: O Bruno ( chefe ) falou que era pra cartão ou pênalti?
Romarinho: Cartão vermelho ou pênalti.
Promotor: Por quanto?
Romarinho: Primeiro, ele falou R$ 300 mil, depois falou R$ 150 mil e dava uma entrada de R$ 10 mil e depois pagava o resto depois do jogo.

Só que não deu certo. Romário soube que não iria mais participar do jogo e como já tinha recebido o adiantamento pela fraude, tentou conseguir um outro atleta para assumir o seu lugar na armação. “Ninguém topou. E nós só descobrimos isso porque ninguém topou”, relata Jorge Hugo Bravo.

A partir dessa denúncia, o MP começou a investigar o jogo do Vila Nova e outros dois jogos da mesma rodada da Série B do Campeonato Brasileiro.

Em março, foi realizada a primeira etapa da operação penalidade máxima. Bruno Lopez chegou a ser preso e no depoimento reconheceu a combinação para que jogadores cometessem pênaltis nas três partidas e a quadrilha faturasse com as apostas. Bruno ainda disse que gastou cerca de R$ 400 mil com as apostas e o aliciamento dos jogadores.

Foram feitas apreensões de celulares de Bruno, de jogadores e outros envolvidos. Conversas entre eles mostraram que o esquema era muito maior.

O Ministro da Justiça, Flávio Dino, pediu à Polícia Federal que abra inquérito para ajudar na investigação. E o governo federal está preparando uma medida provisória para regulamentar as apostas esportivas. Na investigação, os sites de apostas são considerados vítimas do esquema.

Bruno Lopez, líder do grupo que aliciava e pagava os jogadores, foi preso em casa, em São Paulo. Outros dois suspeitos, Thiago Chambó e Romário Hugo dos Santos, também foram presos.

Sete jogadores foram denunciados pelo MP na 2ª fase da Operação Penalidade Máxima – entre eles, Eduardo Bauermann, que preferiu ficar em silêncio no depoimento.

O que dizem os citados

Em nota, o advogado de Thiago Chambó disse que as informações apresentadas na denúncia não têm robustez para incriminar o seu cliente porque inexistem indícios de qualquer ilegalidade.

Os representantes de Romário Hugo dos Santos lamentaram que ele esteja sendo submetido a julgamento da opinião pública antes que possa apresentar sua defesa na Justiça.

Em nota a defesa de Bruno Lopez diz que as acusações serão respondidas no momento oportuno.

Já os representantes de Eduardo Bauermann negam a participação dele em qualquer irregularidade. E que tudo ficará provado durante o processo.

Jogadores envolvidos foram afastados dos clubes. Quatro deles já fizeram um acordo de cooperação com o MP e se tornarão testemunhas no processo:

Kevin Lomonaco, do Bragantino;
Moraes, do Juventude;
Jarro Pedroso, do São Luiz;
Nikolas Santos, do Novo Hamburgo.

O Ministério Público vai seguir na investigação das mensagens do grupo e não descarta a possibilidade de manipulação em outros jogos do futebol brasileiro.

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