“Um terço do planeta entrará em recessão em 2023”, disse a diretora do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, em outubro de 2022, durante uma entrevista coletiva em Washington, nos Estados Unidos.
De certo modo, os sintomas estão dados em várias partes do mundo. Os Estados Unidos, considerada a maior economia do mundo, atingiu, em junho de 2022, o mais alto patamar de inflação dos últimos 40 anos.
A China, segunda maior economia do planeta, também vem passando pela crise econômica. Em setembro de 2022, o yuan, moeda oficial do país, chegou à cotação mínima recorde em relação ao dólar — reflexo da pior seca das últimas décadas, além de rígidas políticas de isolamento devido à Covid-19, que continuam acontecendo em várias grandes cidades do país.
A Europa, por sua vez, viu sua zona do euro atingir a máxima inflação da história, como consequência da guerra da Rússia contra a Ucrânia. O euro, que costumeiramente era mais caro do que o dólar, chegou a US$ 0,98 em setembro de 2022, o menor valor em 20 anos.
Política monetária
Várias economias do mundo estão inseridas ou se encaminhando para um cenário de recessão, mas especialistas consultados pela CNN afirmam que a zona do euro é que terá mais dificuldades para se recuperar.
Segundo o professor de Relações Internacionais do Insper, Roberto Dumas, o problema é que a zona do euro, composta por 19 países, funciona com uma política monetária única: “Eles têm uma única política monetária com ciclos econômicos distintos”, explica.
Por exemplo: a Estônia está com uma inflação de 20%, enquanto a Alemanha está com uma inflação de 8%. “A Estônia pede uma política monetária contracionista muito maior do que a Alemanha. E é óbvio que a Christine Lagarde [presidente do Banco Central Europeu] vai considerar muito mais os países de economia mais forte. Ou seja, uma política monetária não serve para todo mundo”.
A falta de política cambial também é um problema, segundo o especialista. “Os 19 países da zona do euro estão absolutamente com as mãos atadas. Se a gente fala que os Estados Unidos estão em um momento desafiador, eu diria que a zona está em um momento muito mais desafiador”, conclui Dumas.
Dívida pública
Outra dificuldade estrutural da zona do euro é a falta de convergência quando o assunto é dívida pública.
Enquanto a Alemanha, por exemplo, tem um déficit fiscal de 69% sobre o PIB — ou seja, 69% do que a Alemanha produz em um ano seriam necessários para pagar a dívida que a Alemanha tem com o Banco Central Europeu (BCE) —, a Grécia tem um déficit fiscal de 193% sobre o PIB.
Para corrigir essa questão, Dumas acredita que “é imprescindível que a Europa tenha um federalismo fiscal. Países com a mesma moeda não podem gozar de total autonomia, nem fiscal. Precisam estabelecer e concretizar, de fato, uma entidade ou uma instituição que determine quanto cada um pode gastar.”
“Nesse momento, tem um problema conjuntural, que é a guerra da Rússia contra a Ucrânia, mas tem também um problema estrutural, que vai ser difícil de ser resolvido no médio ou curto prazo”, diz.
Para entender de que modo o continente pensa em lidar com a iminente recessão econômica e a consequente desvalorização do euro, o CNN Soft Business que vai ao ar neste domingo (6) também conversou com o embaixador da União Europeia no Brasil, Ignacio Ybáñez.
Além de destacar os tempos mais tempestuosos da Covid-19 seguido de um ataque da Rússia à Ucrânia — o que fez disparar a inflação sobre os alimentos e a energia no continente –- o embaixador explicou as ações que vêm sendo tomadas para remediar a crise.
“O Banco Central Europeu teve que reagir de forma clara a respeito dos preços e aumentou a taxa de juros — algo que não fazia há 11 anos. E mesmo que a União Europeia seja considerada um mercado único, cada um dos países terá que adotar soluções diferentes. O próprio BCE tem discutido isso”, explica.
“Não dá para estabelecer uma regra única para todo o conjunto, pois as situações não são similares”.