Jair Bolsonaro (PL) apostava que o desfile de 7 de Setembro deste ano seria um ponto de virada em sua candidatura à reeleição.
A ideia era aproveitar a visibilidade da data e o convidado especial, o coração de um imperador morto em 1834, para mostrar ao mundo que tinha o povo, a força, os valores da monarquia e as armas ao seu lado.
O resto da história é conhecido: em meio às groselhas de sempre, o presidente aproveitou a deixa para beijar a “princesa” e pedir que fosse aclamado como “imbrochável”.
Desde então, o candidato que precisava tirar ao menos 13 pontos percentuais da vantagem do ex-presidente Lula (PT) para ensaiar uma ultrapassagem estagnou. Segundo a pesquisa Ipec divulgada na segunda-feira (26/9), o capitão tem os mesmos 31% das intenções de voto da véspera do feriado.
Seu oponente cresceu quatro pontos percentuais desde então. Tinha 44% das preferências e hoje tem 48%.
Lula ganha força no momento em que o terceiro colocado, Ciro Gomes (PDT), derrete. O pedetista tinha 8% no início de setembro e hoje tem 6%. No período diminuiu também o índice dos que pretendem votar em branco ou nulo (eram 6% e agora são apenas 2%).
O favoritismo do petista é alavancado sobretudo entre as mulheres. Ele tinha 45% das intenções de voto entre o eleitorado feminino há 20 dias e hoje tem 51%. Bolsonaro permanece com 26%.
Em uma semana, Lula cresceu entre eleitores de 25 a 34 anos (subiu de 43% para 49%) e manteve a vantagem entre eleitores que ganham até um e de um a dois salários mínimos (57% e 53% das citações, respectivamente, contra 23% e 29% de Bolsonaro).
O capitão ultrapassou Lula, no entanto, entre quem recebe de dois a cinco salários mínimos (40% a 37%), num sinal de que esta é a faixa de renda onde mais se nota o resultado de medidas como a redução do preço dos combustíveis.
Bolsonaro também lidera entre os mais ricos (mais de cinco salários), mas a vantagem já foi maior. Tinha 15 pontos de vantagem há uma semana (47% a 32%) e agora tem apenas seis (44% a 38%).
Desde 7 de Setembro, Lula aumentou ainda mais a vantagem no Nordeste (62% contra 23%) e tomou a dianteira em regiões onde Bolsonaro era o favorito, como o Norte e o Centro Oeste (42% a 36%).
O quadro permite vislumbrar a possibilidade de que a eleição termine já no domingo, dia 2 –embora historicamente candidatos à direita costumem avançar algumas casas nas intenções de voto na reta final. Nem o Ipec nem o Datafolha da semana passada, porém, indicam essa tendência ainda. Lula hoje tem 52% dos votos válidos.
Bolsonaro não só viu a distância para Lula ser ampliada nos últimos dias para 17 pontos percentuais como observa dificuldades em eleger seus candidatos pelos estados. Um levantamento do jornal O Globo mostrou que só seis dos 33 nomes apoiados pelo presidente são favoritos nessas disputas –todos concorrem à reeleição.
Num sinal de cansaço, ele voltou a colocar em dúvida a confiabilidade dos institutos de pesquisa e as urnas eletrônicas em uma entrevista para a TV, numa espécie de dataplanismo assumido na reta final da campanha.
Seu ministro da Economia foi na mesma e, diante do diagnóstico mais óbvio apontado pelas pesquisas (Bolsonaro não tinha projeto para os mais pobres e as medidas eleitoreiras, com programas inflacionados e mal desenhados, para recuperar terreno não surtiram efeito), passou a espalhar por aí que não existem pessoas famintas no país.
No debate do SBT, Bolsonaro tentou vender a ideia de que votar em seu adversário era dar um voto à corrupção, que ele finge não ter existido em seu governo. Dizia isso enquanto seu primogênito tentava censurar uma reportagem do portal UOL a respeito da compra milionária de imóveis em dinheiro vivo por ele e seus familiares.
A pá de cal para o ensaio de reação pode ter sido determinada por Alexandre de Moraes ao autorizar, a pedido da Polícia Federal, a quebra de sigilo bancário do tenente-coronel Mauro Cesar Barbosa Cid, principal assessor do presidente. Conversas por escrito, fotos e áudios trocados pelo assessor e outros funcionários do governo sugerem que Bolsonaro levou a Brasília o método de depósitos fracionados e saques em dinheiro às portas de seu gabinete.
A polícia desconfia que o dinheiro movimentado tenha sido usado para pagar contas pessoas da família Bolsonaro.