Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Fernando Haddad (PT) decidirão no segundo turno, no próximo dia 30, quem será o futuro governador de São Paulo. O resultado foi confirmado às 20h32 deste domingo (2). Com 100% das urnas apuradas pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE), Tarcísio obteve 9.881.786 (42,32%) dos votos e Haddad, 8.336.805 (35,70%) dos votos.
Rodrigo Garcia (PSDB) recebeu 4.296.174 votos (18,40%) e ficou em terceiro lugar. Após quase 30 anos, os tucanos deixam a disputa para o comando do estado. Votos nulos foram 2.149.688 (7,92%), e brancos, 1.645.470 (6,06%). O índice de abstenção foi de 21,63%.
O estado de São Paulo não decidia uma eleição em segundo turno desde 2002, quando Geraldo Alckmin (PSDB), atualmente no PSB e vice na chapa de Lula, venceu José Genoino (PT). Segundo o calendário da Justiça Eleitoral, o segundo turno está marcado para 30 de outubro.
Em discurso após o resultado da eleição do primeiro turno, Haddad agradeceu aos eleitores e disse que tem todo o interesse de conversar com Rodrigo Garcia. “Orgulho de ter feito a maior campanha do campo progressista. Estamos com uma diferença pequena em relação ao Tarcísio, em 2012 também foi assim. Passamos por mais de 150 cidades na campanha, fomos bem recebidos sem exceção. Não houve incidentes graves nem leves. Muito agradecimento pelo carinho nessa jornada. Chegamos aos 36%, não era o que almejávamos, mas perto da meta. Acreditamos que Lula chegará a 48% ou até mais e temos que conversar agora com os outros setores da sociedade, que não nos apoiaram nesse início. Tenho todo o interesse de conversar com Rodrigo Garcia”, afirmou.
Pouco depois, o adversário Tarcísio disse que vai buscar os prefeitos do estado no segundo turno. “Agora vamos sentar, conversar bastante. Vamos buscar os prefeitos. Porque a gente tem trazer para eles a garantia que nenhum projeto vai ser descontinuado. No Ministério da Infraestrutura, a gente concluiu obras que estavam inacabadas. Então, a gente sabe que com muito sacrifício eles conseguiram fazer convênios, levar recursos para os seus municípios. A gente sabe que essa tranquilidade pros prefeitos a gente quer passar. Então nós vamos abrir conversa com os prefeitos, que é muito importante. Você não governa o estado sem as prefeituras, sem os prefeitos. É lá que as pessoas moram. Ali estão os problemas reais e é com eles que a gente vai inaugurar essa rodada de conversas. Vamos falar com os partidos. Buscar as alianças, as adesões a esse projeto. A gente precisa buscar aderência a esse projeto que estamos apresentando. É um projeto de fato de transformação e mudança para o estado de São Paulo”.
Campanha
A eleição estadual foi pautada pela disputa presidencial, que influenciou significativamente os debates e as entrevistas entre os postulantes ao Palácio dos Bandeirantes. Fernando Haddad fez campanha ao lado do ex-presidente Lula e usou os feitos como ministro da Educação do governo petista como argumento. Já Tarcísio de Freitas se apoiou em seu padrinho político e defendeu o governo de Jair Bolsonaro, do qual fez parte, durante o período.
Assim como na campanha nacional, a paulista foi marcada pela polarização, em que os candidatos de Lula (Haddad) e Jair Bolsonaro (Tarcísio) buscaram atrair a atenção do eleitor e escantear o tucano, que tentava a reeleição. Foi esta a estratégia de ambos nos quatro debates dos quais participaram.
Nas inserções em rádio e TV, os ataques foram frequentes. A campanha de Tarcísio se dedicou a falar do patrimônio do tucano na TV, alegando que ele tem escondido supostas “verdades do seu passado” dos eleitores, ligando também a imagem de Rodrigo às ações polêmicas de João Doria (PSDB) no governo de São Paulo, de quem ele era vice.
Rodrigo, por sua vez, usou as propagandas na TV para dizer que Tarcísio “caiu de paraquedas em São Paulo e não sabe o seu local de votação”.
A campanha tucana também usou o tempo de TV do candidato ao Senado Edson Aparecido (MDB), da mesma chapa de Rodrigo, para atacar Haddad. Segundo uma das inserções, “é preciso mostrar o cartão vermelho para a turma do PT mais uma vez”. A peça publicitária do MDB usava a imagem da ex-presidente Dilma Rousseff junto com Haddad para criticar a gestão do petista na cidade de São Paulo, na época em que era prefeito.
Já Haddad focou suas críticas contra Rodrigo, mostrando um vídeo em que o tucano diz apoiar o deputado estadual Fernando Cury (União Brasil), que passou a mão no seio da também deputada Isa Penna (PCdoB) no plenário da Alesp.
Na peça publicitária, a campanha do PT questiona a proximidade do tucano com Cury, que chegou a ter o mandato suspenso na Alesp por causa do episódio contra a colega do PCdoB e foi expulso do antigo partido dele, o Cidadania.
Em ao menos um momento, as agressões saíram das peças publicitárias e se tornaram reais: em 6 de setembro, Haddad cancelou, por motivos de segurança, uma agenda em Presidente Prudente, no interior do estado, que ocorreria na manhã de quarta-feira (7), data do bicentenário da Independência. Segundo a coordenação da campanha, circulavam em grupo de WhatsApp mensagens “com ameaças explícitas à passagem do candidato na cidade”.
Dez postulantes se apresentaram como candidatos ao governo do estado, confira o desempenho nas urnas de cada um:
Tarcísio de Freitas (Republicanos) – 42,32%
Fernando Haddad (PT) – 35,70%
Rodrigo Garcia (PSDB) – 18,40%
Vinicius Poit (Novo) – 1,67%
Elvis Cezar (PDT) – 1,21%
Carol Vigliar (Unidade Popular) – 0,38%
Gabriel Colombo (PCB) – 0,20%
Altino Júnior (PSTU) – 0,06%
Antonio Jorge (Democracia Cristã) – 0,05%
Edson Dorta (PCO) – 0,02%
Quem é Tarcísio de Freitas
Tarcísio nasceu no Rio de Janeiro e tem 47 anos. Em 1996, se formou em ciências militares pela Academia Militar de Agulhas Negras (Aman) e passou a atuar como oficial do Exército.
Em 2002, concluiu a graduação em engenharia civil e tornou-se engenheiro do Exército. Deixou a carreira militar em 2008, com a patente de capitão, e entrou para o funcionalismo público federal.
Em dezembro de 2018, foi nomeado ministro da Infraestrutura pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), onde ficou até este ano. Em março de 2022, se filiou ao Republicanos, partido do Centrão que integra a base do governo do presidente no Congresso.
Para concorrer ao comando do estado de SP, ele transferiu o domicílio eleitoral para a capital. O processo chegou a ser investigado pela Procuradoria Regional Eleitoral após contestação do PSOL. A solicitação, entretanto, foi arquivada.
Durante a campanha, o candidato foi alvo de ataques de adversários pelo fato de nunca ter morado no estado de São Paulo. Em entrevista à TV Vanguarda, ele foi questionado sobre seu local de votação e não soube responder.
Está em sua primeira eleição. Declarou possuir bens no valor de R$ 2,3 milhões. Sua coligação é a São Paulo Pode Mais, formada pelos partidos Republicanos, PL, PSD, PTB, PSC e PMN. Seu vice é o ex-prefeito de São José dos Campos Felício Ramuth (PSD).
Quem é Fernando Haddad
Nascido em São Paulo, no dia 25 de janeiro de 1963, Fernando Haddad (PT) foi ministro da Educação entre 2005 e 2012, quando licenciou-se para disputar a Prefeitura de São Paulo.
O convite partiu do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que defendeu a escolha de Haddad em detrimento de nomes tradicionais do PT, entre os quais, a ex-prefeita Marta Suplicy.
Haddad foi prefeito da capital paulista de 2012 a 2016, e candidato do PT à reeleição à época, mas perdeu para o tucano João Doria.
Em 2018, foi o candidato do PT à Presidência – teve 44,87% dos votos no segundo turno e perdeu para Jair Bolsonaro (então no PSL).
Filho de comerciantes do Bom Retiro, na região central de São Paulo, aos 18 anos Haddad entrou para a faculdade de direito da Universidade de São Paulo (USP), no Largo de São Francisco. Formou-se bacharel em 1985.
Em 2001, assumiu a chefia de gabinete da secretaria municipal de Finanças na gestão da prefeita Marta Suplicy. Dois anos depois, se tornou assessor especial do ministro do Planejamento, Guido Mantega. Depois, foi secretário Executivo do Ministério da Educação e se tornou ministro sob a gestão de Lula.
Haddad escreveu os livros “O Sistema Soviético”, “Em Defesa do Socialismo”, “Desorganizando o consenso”, “Sindicatos, cooperativas e socialismo” e “Trabalho e linguagem.”
Como prefeito de São Paulo, implementou corredores de ônibus, faixas exclusivas, ampliou a malha cicloviária, reduziu o limite de velocidade nas marginais, criou a controladoria municipal, órgão responsável por fiscalizar o poder executivo e investiu em política de redução de danos para combater o uso de drogas na capital.
Nesta eleição, declarou possuir bens no valor de R$ 595 mil, e faz parte da coligação Federação Brasil da Esperança, que conta com os partidos PT, PCdoB, PV, PSB, PSOL, Rede e Agir. Sua vice é a educadora Lúcia França (PSB).
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