A Polícia Militar (PM) de São Paulo prendeu neste domingo (12) o artista Vinicius Eduardo Santos Saavedra, de 23 anos, investigado por assassinar a facadas o fotógrafo Felipe Ary de Souza, o “Terremoto”, de 25, após uma festa dentro de um apartamento, no Centro de São Paulo. A vítima colaborava com o coletivo Jornalistas Livres.
O crime ocorreu na madrugada da última quarta-feira (8) no 14º andar do prédio onde Vinicius morava com a namorada, na Avenida Ipiranga. O caso é investigado como homicídio pela Polícia Civil.
De acordo com a Secretaria da Segurança Pública (SSP), a PM deteve Vinicius e o levou para o 3º Distrito Policial (DP), Campos Elíseos. “As investigações prosseguem para o devido esclarecimento dos fatos”, informa nota da pasta divulgada nesta segunda.
Antes de ser preso, o autor gravou vídeos e postou no seu Instagram alegando que ‘matei sim o moleque’ para se defender dele após discutirem e brigarem. Vinicius disse que Felipe havia paquerado sua namorada, uma inglesa de 23 anos. Ele também contou que foi esfaqueado pelo fotógrafo, que era amigo do casal. E mostrou cortes na mão e na barriga.
Felipe estava no imóvel de Vinicius e da namorada dele, junto com outro amigo deles, que saiu após a confusão. Este rapaz deverá ser ouvido como testemunha nesta segunda-feira (13) pela investigação para contar o que aconteceu dentro do apartamento.
Segundo a namorada de Vinicius contou à policia na semana passada, todos os quatro amigos beberam e consumiram drogas na residência. Ela também confirmou a versão do namorado de que foi “cantada” pelo fotógrafo, o que desencadeou a confusão. A jovem foi ouvida como testemunha e acabou liberada.
O artista ainda não foi ouvido formalmente pela polícia após o crime. Ele ficou internado por dois dias na Santa Casa de Misericórdia, até receber alta, em razão dos ferimentos. Nesse período não chegou a ser detido. Vinicius deverá ser interrogado nesta segunda.
Câmeras de segurança gravaram o momento que Vinicius, a namorada e o cachorro deles deixam a residência onde moram e saem do prédio após o crime. Nas imagens o artista aparece com a camiseta ensanguentada.
Cerca de 20 minutos depois, as cenas mostram a Polícia Militar chegando ao local. Um dos policiais chuta a porta, que estava trancada, e entra no apartamento. Felipe foi encontrado sozinho e ferido. Ele foi levado para a Santa Casa de Misericórdia, onde sua morte foi confirmada (veja acima).
A Polícia Civil também vai analisar as imagens das câmeras de segurança e outras filmagens que circulam nas redes sociais para tentar esclarecer os motivos do crime.
Vídeos gravados pelas câmeras do prédio mostram o momento que o casal sai do apartamento no dia do crime. Nas imagens, gravadas por volta das 4h25 de quarta-feira (8), é possível ver a namorada de Vinicius segurando a coleira de seu cão, no corredor, do lado de fora do imóvel, que fica no 14º andar. Em seguida, ele aparece e se deita do chão e a jovem fecha a porta.
Pouco depois das 4h30 do mesmo dia, os namorados passam pelo portão do edifício em direção a calçada da Avenida Ipiranga. Na sequência, Vinicius tira a camiseta, que parece estar ensanguentada, e mostra a barriga para a namorada.
Ainda na quarta passada, após às 4h50, policiais militares se aproximam da porta do apartamento do casal e um deles chuta a porta, que abre. Em seguida, os agentes da Polícia Militar (PM) entram no imóvel.
Família
“Nós não sabemos se ele ainda estava com vida quando os policiais arrombaram o apartamento”, disse ao g1 Maira Pinheiro, advogada contratada pela família de Felipe para acompanhar a investigação da polícia sobre a morte do fotógrafo. “Ele foi levado à Santa Casa. Os policiais ingressaram no apartamento 20 minutos depois de o casal sair. Acreditamos que foi já sem vida”.
Uma faca e um canivete foram apreendidos pela PM e iriam passar por perícia. A SSP não informou se a Polícia Técnico-Científica periciou o apartamento do casal após o crime. Vinicius gravou outro vídeo dizendo que, na sexta-feira (10), foi ao apartamento com a namorada retirar os móveis de lá. Eles teriam deixado de morar no prédio.
‘Matei sim o moleque’
O motivo da desavença com Felipe teria sido o fato de o fotógrafo paquerar a namorada de Vinicius, uma jovem inglesa de 23 anos. Segundo um áudio gravado por Vinicius, o fotógrafo falou na frente deles que “ficaria com ela” desde que ele não ficasse sabendo disso.
“Uma pessoa que literalmente só se defendeu”, alega Vinicius em um dos vídeos que divulgou publicamente em sua rede social. “Eu matei sim o moleque. Eu só defendi minha casa e minha mulher (…) Eu fui furado também, dentro da minha própria casa. Foi legítima defesa, o cara tentou me matar na minha própria casa.”
Neste domingo (12), ele retirou os vídeos da sua conta, onde se apresenta como artista e tem mais de 21 mil seguidores.
A garota, de 23 anos, confirmou a versão do namorado em seu depoimento na delegacia, dizendo que recebeu “uma cantada”. Apesar de ser amiga de Felipe, ela havia dito aos policiais que não conhecia o rapaz que a teria assediado. A jovem contou que, além do casal e do fotógrafo, outro rapaz também estava na festa com eles, mas teria ido embora após a confusão. Ele não foi ouvido no DP. Segundo ela, os quatro beberam e consumiram drogas na festa.
A namorada de Vinicius não foi ferida. Ela foi ouvida como testemunha pela investigação e acabou liberada. Em áudio atribuído a ela que circula na web, a jovem diz que “o Terremoto tentou matar” seu namorado.
‘Terremoto’ era colaborador de site
Felipe era o ‘Terremoto Souza’ no Instagram, onde tinha quase 2 mil seguidores que acompanhavam suas fotos. Ele também colaborava como fotógrafo para o coletivo Jornalistas Livres, que produz conteúdo jornalístico nas redes sociais. Segundo o grupo, o jovem participou do movimento de estudantes secundaristas que ocupou escolas em protesto contra a reorganização escolar proposta pela gestão do governador Geraldo Alckmin em 2015.
O corpo de Felipe foi velado e enterrado no sábado (11) no Cemitério da Vila Nova Cachoeirinha, na Zona Norte da capital. Segundo a família do fotógrafo, ele apresentava um corte profundo no pescoço.
“Por mais que esse cara fez, tudo isso dá raiva, mas a gente precisa buscar a Justiça do homem”, falou à reportagem Katequile Souza, irmã de Felipe, que ganhou o apelido “Terremoto” na escola. “O sonho dele era ser fotógrafo mesmo. E foi se aperfeiçoando e foi natural…”
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