Um grupo de cinco mulheres de Rio Claro (SP) iniciaram uma jornada no Caminho da Fé para levar uma mensagem de superação contra o câncer de mama. O mês escolhido para a caminhada especial não poderia ser outro: outubro, quando é feita a conscientização sobre a doença, pela campanha Outubro Rosa.
Na mala, as mulheres estão levando apenas o essencial para os quatro dias de caminhada em mochilas com, no máximo, oito quilos.
“Não é uma caminhada para o embelezamento, para nos aparecermos. É uma caminhada para mostrarmos a nossa fé, o nosso agradecimento por estarmos curadas ou num processo de cura. Com certeza mais um desafio. Vamos lá, vamos nessa luta, vamos nessa caminhada, vamos conscientizar as mulheres a respeito de cuidar das suas mamas, de correr atrás do prejuízo, e que câncer de mama não é sentença de morte, eu sou exemplo disso”, afirmou a terapeuta Marilsa de Souza Marinelli, que já teve câncer três vezes.
Elas e outras pessoas saíram no sábado (12) de Rio Claro para se encontrar com outro grupo, vindo de São Paulo, em Paraisópolis, no sul de Minas Gerais. Ao todo, 21 pessoas, das quais 12 são mulheres curadas ou em tratamento contra o câncer de mama, iniciaram no domingo (13) uma caminhada de 110 km até o Santuário Nacional de Aparecida.
A caminhada é ideia do médico mastologista Daniel Buttros, que já fez o caminho várias vezes, muitas delas representando suas pacientes.
“Desde 2019, eu faço o Caminho da Fé. Já fiz sozinho, em poucas pessoas, e sempre levei cartas de pacientes tratadas de câncer de mama e, em algum momento, começou a fazer muito sentido para mim e tornava a minha caminhada com uma missão muito diferente. E faz sentido no tratamento oncológico a gente poder associar a esperança e a fé junto com o tratamento científico e médico”, disse.
O câncer de mama é o segundo tipo câncer mais frequente em mulheres. A estimativa do Instituto Nacional do Câncer é que mais devem acontecer mais 73 mil novos casos somente neste ano.
Entre 90 a 95% dos casos não são hereditários e os primeiros sintomas podem ser observados pelo autoexame, pelo exame clínico das mamas e também por exames de imagem como mamografia, ultrassonografia e ressonância magnética.
A bancária Sânia Érica Almeida Santos descobriu no banho, justamente após voltar de um encontro com Nossa Senhora Aparecida.
“Em 8 de maio de 2023 eu vim com meus irmãos a Aparecida. A gente precisava vir, eu tinha perdido meu pai, depois da minha mãe e a gente resolveu: vamos em Aparecida. Passei o dia aqui, oramos, agradecemos. Quando eu cheguei em casa à noite, fui tomar um banho e senti um caroço embaixo da axila que não estava lá de manhã, tenho certeza que não estava. Então, foi aqui que eu fui alertada, foi Aparecida. Eu tenho certeza que foi a fé, a minha mãe e Nossa Senhora que falaram: ‘olha cuida porque você está com problema’.”
Desde então foi um ano de muita luta para Sânia, que havia pedido o pai para o câncer. Ela fez cirurgia e quimioterapia. Como em sinal de agradecimento, os irmãos e a filha prometeram peregrinar até o Santuário de Aparecida.
“O meu papel nessa história seria buscá-los, porque o que eu queria ficar bem o suficiente para ter condições de dirigir para buscá-los em Aparecida”, contou Sânia.
Mas a força e a fé da bancária são tão grandes que agora é ela quem faz o Caminho.
“Eu nunca em sã consciência, mesmo que eu não tivesse ficado doente, dificilmente aceitaria”, disse admirada. “Eu só consigo olhar para trás e ver uma história que, às vezes, eu acho que nem foi comigo. Eu tenho a impressão que teve um personagem lá atrás. Eu já sou outra. Quando eu vejo fotos ou vídeos que eu fiz lá atrás, eu sempre falo ‘parece que é outra pessoa’, eu não sou mais aquela pessoa.”
“Eu acho que estou justamente fazendo o caminho para entender até onde eu posso ir, até onde eu posso me desafiar. No começo, você tem medo de tudo: “será que eu posso fazer isso? E se você sentir uma dorzinha? Nossa, é melhor me preservar”. A gente está muito sensibilizado. E, à medida que o tempo vai passando, a gente vai ganhando um pouco mais de confiança, de fôlego”, afirmou.
No primeiro tratamento, ela se recolheu, mas no segundo, usou as redes sociais para contar sobre o que estava passando com a doença. Compartilhar a sua dor abriu caminhos e uma grande rede de apoio da qual ela hoje não apenas recebe, mas também oferece.
“À medida que eu fui me abrindo e falando sobre a doença nas redes sociais, eu conseguia atrair pessoas que se identificaram e aí a gente criou uma comunidade”, contou.
Atualmente, Carol é voluntária em uma ONG em São Paulo orientando famílias que precisam de suporte econômico, psicológico e ajuda a outras pacientes.
“Recebo muita ajuda. É uma troca constante de crescimento de fortalecimento A gente vai descobrindo potências que a gente não sabia que tinha. Eu também estou me descobrindo muito nesse processo porque você ainda é aquela pessoa de antes desse grande evento que é o câncer, mas com muitas mudanças então assim você tem uma referência que não se encaixa mais no momento atual e precisa ser descobrir nesse processo.”
O caminho ajuda nessa ressignificação seja pelo autoconhecimento ou pelo encontro com outras mulheres que já passaram por esse processo de redescoberta, como é o caso da empresária Tânia Reis, que está fazendo o trajeto pela sexta vez.
“Elas já estão no caminho certo, é o caminho da cura. O caminho da nossa Aparecida é o caminho da cura e, se elas acreditarem, se elas estiverem fé, essa vai ser a cura na vida delas.”
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