Uma família de Araras procura os restos mortais da mãe após erro durante o processo de exumação. Os ossos da mulher foram retirados do túmulo antigo, mas ficaram sem identificação. A administração diz que tomou medidas para evitar o problema.
A Polícia Civil e a administração também apuram um suposto esquema de venda irregular de túmulos. Um servidor foi exonerado e outra é investigada.
Em 2021, a mãe de Pedro* sofria com uma doença crônica no pulmão e se sentiu mal, mas, como era época de pandemia, ela ficou com medo de buscar ajuda. Ela acabou piorando e foi levada às pressas ao médico, mas não resistiu e morreu em 9 de Junho aos 62 anos.
Ela foi enterrada em um túmulo provisório, onde poderia ficar por 3 anos. Enquanto isso Pedro comprou um jazigo particular na região da Rua 65.
A ideia era transferir os restos mortais para o local, mas o filho não queria acompanhar a exumação. “É muito difícil. Eu tenho a imagem dela viva, mas depois de uns 3 anos, que ela já não é mais passível de uma identificação visual, é mais difícil pra mim”, disse.
Em maio, Pedro foi até o cemitério para falar com a administração e acertou todos os detalhes, informando que não acompanharia a exumação para o enterro no novo túmulo da família.
Depois disso ficou tranquilo, mas, no último domingo (14), foi conferir se estava tudo certo e levou um susto.
“Fui mostrar para o meu irmão onde ela estava. Primeiro mostrei o túmulo novo e ela não estava. Eu desci no túmulo antigo e infelizmente tive a surpresa que, a princípio, teria outra pessoa sepultada”, afirmou.
Ele foi novamente até a administração onde descobriu que outro corpo estava no túmulo antigo da mãe. No porão da capela do cemitério, ficam vários sacos de exumação com restos mortais. Pedro então se prontificou a verificar se a mãe estava entre eles.
“Já fazia a transferência e já terminava com aquilo ali. 90% deles tinham identificação, mas em alguns infelizmente não havia a identificação de praxe”.
Pedro e o irmão viram um pino em um dos ossos e a mãe tinha um parecido, mas eles não têm certeza se é mesmo ela.
“Não sei qual era o formato desse pino. Sabemos que era da perna, mas não lembro se era esquerda ou direita. Eu acredito que ela está ali, mas a gente quer a identificação e a certeza também. Quem trabalha com isso tem que pensar em não agravar o sofrimento da família”, desabafou.
O administrador do cemitério, Thales Fernando Lima de Oliveira, reconheceu que erros aconteceram no processo.
“Houve uma falha de comunicação no momento da exumação. Nós não contatamos ele, mas a gente já tinha o aval dele de que poderia ser usado. Em momento algum os restos mortais da mãe foram desrespeitados”.
“É um procedimento de praxe aqui do cemitério. O saco dela especificamente não estava identificado, porém um dos coveiros que acompanhou a família foi certeiro no saco. Inclusive ele tirou os ossos do saco e o filho da mulher identificou um pino de prata no tornozelo. Ele não quis bater o martelo naquele momento porque ele falou que vai entrar com uma ação judicial para ter um DNA, o que é direito dele. Mas naquele primeiro momento ele já manifestou que poderia ser a ossada”, disse Thales.
Thales garantiu que adotou medidas para que casos parecidos não se repitam. “Eu já reforcei também tanto com o escritório quanto com a minha equipe de serviço funeral, que são os coveiros. A gente não vai exumar sem falar com a família e não vai armazenar os restos mortais se não tiver feito essa etiqueta”, afirmou.
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