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Falsa médica presa em Campinas atendeu time de futebol da região

A direção do Amparo Athlético Club detalhou nesta quinta-feira (25) os serviços prestados pela falsa médica presa em Campinas (SP) no período em que ela prestou serviços ao clube, incluindo presença em jogos, exames e atestados.

De acordo com a Delegacia de Investigação Gerais (DIG), Simone Martins Ferreira chegou a atuar em um time de futebol de Amparo (SP) e era contratada de uma empresa. A prisão foi na noite de segunda-feira (22) e, segundo a direção do Amparo Athletico Club, a falsa médica cobrava R$ 700 pela presença dela em jogos na cidade, e R$ 800 quando a partida era em outro município. Além disso, ela ainda estabeleceu preços de R$ 70 para um exame de eletrocardiograma, e de R$ 50 para conceder atestados.

“Toda equipe tem que ter no mínimo, quando joga em casa, dois médicos. Um na ambulância, que a gente contrata a empresa de ambulância e já vem com médico, e o nosso médico no banco de reservas. Quando a gente joga fora a gente também precisa levar um médico, então ela prestava esses serviços”, falou o presidente do Amparo Athlético Club, Luciano Antonacci.

O médico da Unicamp explicou qual a importância dos exames antes da prática de esportes. “A avaliação pré-atividade física é importante porque podemos detectar um problema estrutural do coração que possa limitar ou até inviabilizar a prática de atividade física. Ela depende de uma boa história clínica, de um bom exame físico. Alguns métodos mais avançados em alguns casos são indicados como teste de esteira, são testes que nós chamamos funcionais não invasivos para avaliar a resposta do coração durante o esforço físico. Então, tem que ser pessoas habilitadas, médicos habilitados, com competência para analisar todos esses métodos”, explicou o especialista.

Giopatto também abordou quais os reflexos sobre laudos emitidos de maneira irregular. “Isso é gravíssimo porque situações de alto risco, de morte na atividade física, no esporte, nós sabemos que ela existe, podemos ver isso, infelizmente, com certa frequência. Se você interpreta inadequadamente o método, você permite que a pessoa faça atividade física numa intensidade inadequada para aquela condição cardiológica dela e isso pode levar a eventos graves como a morte, que é o pior que podemos encontrar”, ressaltou o cardiologista da Unicamp.

A defesa de Simone, em contrapartida, diz que vai demonstrar que houve um “mal-entendido” durante o andamento do inquérito policial. “Tudo será esclarecido assim que as investigações forem concluídas e todas as provas forem analisadas. Desde já confiamos na Sra. Simone e que no final, sua absoluta inocência será provada para que não pairem dúvidas quanto à regularidade de sua conduta profissional e ética”, diz nota divulgada pelo advogado Hebert Cardoso.

Apurações
Simone que é formada em farmácia, passou por audiência de custódia na terça (23) e teve a prisão em flagrante convertida em preventiva.

A mulher de 44 anos utilizava, há pelo menos dois anos, o número do Conselho Regional de Medicina (CRM) da médica dermatologista Simone de Abreu Neves Salles, que é professora da Universidade Federal Fluminense (UFF). A mulher chegou a ser presa por resistência em agosto de 2022 durante um cumprimento mandado de busca e apreensão, mas pagou fiança e foi liberada.

De acordo com a Polícia Civil, a falsa médica chegou a ser contratada para realizar exames e acompanhou os jogadores do Amparo Athlético Club, que equivale, atualmente, à quarta divisão do futebol estadual. Entre os materiais apreendidos com ela, estava uma credencial da Federação Paulista de Futebol (FPF).

O presidente da equipe afirmou que se surpreendeu ao ficar sabendo da notícia. “Ela atuou no clube desde março deste ano, onde fez exames em atletas, acompanhou a equipe em alguns jogos. Eu como presidente sou responsável e estou à disposição da Polícia Civil para banir essas pessoas dos nossos meios e esclarecer também que o Amparo foi vítima”, afirmou Luciano Antonacci.

O contrato com ela foi encerrado depois que a equipe perdeu uma partida por W.O – quando acontece a ausência de uma das equipes – por conta do atraso da falsa médica. Além disso, ela também era contratada de uma empresa do ramo de saúde ocupacional desde 2020, durante a pandemia da Covid-19. Foi a própria companhia que identificou uma inconformidade no contrato e alertou o Conselho Regional de Medicina (Cremesp).

“Eu achei muito estranho, porque eu nunca exerci a minha profissão fora do meu estado e, se a gente faz isso, temos que pagar o registro do CRM nos dois estados”, disse Simone de Abreu Neves Salles à EPTV, que já estava ciente que a falsa médica estava usando seu nome e número de CRM para aplicar os golpes e denunciou a mulher ao Ministério Público, além de registrar boletim de ocorrência.

“Ela falsificou minha carteirinha do CRM, com o nome dos meus pais errado. Fiquei aliviada que ela parou de provocar riscos aos pacientes, mas eu fiquei de mãos atadas, porque eu não tenho poder de polícia”, completou.

Como ela atendia?
A falsa médica fazia atendimento a domicílio na região de Campinas e prescrevia exames e remédios. Ela chegava a cobrar entre R$ 300 e R$ 400 por consulta.

“Por ser formada em farmácia, ela tinha um conhecimento médico, mas deveria ter se limitado apenas à sua formação”, afirmou o delegado responsável pela investigação, Luiz Fernando Dias de Oliveira.

A polícia apreendeu com a mulher receituários de controle especial, carimbos, equipamentos médicos, insumos, seringas, e a credencial da FPF.

A investigação
O delegado afirmou que foi muito difícil chegar até a falsa médica porque ela mudava constantemente de endereço, o que deu a entender que não atendia mais fisicamente. Na segunda-feira, uma mulher pediu para que uma policial acompanhasse um atendimento ao pai dela e, por isso, foi possível fazer o flagrante no momento em que ela assinava e carimbava uma receita.

“A policial civil notou quando ela se apresentou e passou a qualificação. Aí ela entrou em contato com outros agentes, que confirmaram a identidade da falsa médica e se deslocaram ao local. A mulher encerrou o atendimento e foi presa em flagrante. Ela se apresentou como médica, apresentou as credenciais, prescreveu, aferiu pressão, e acabou carimbando e assinando um receituário. Todos os elementos do exercício ilegal da medicina caracterizaram o flagrante”, disse Oliveira.

Além de prestar atendimento a domicílio, Simone também tinha uma suposta empresa de home care (cuidado em casa, na tradução do inglês), terceirizava alguns serviços e repassa o valor que recebia aos profissionais. A polícia agora vai investigar se essas pessoas sabiam que ela era uma falsa médica.

A mulher foi indiciada pelos crimes de falsidade ideológica, estelionato tentado e exercício ilegal da medicina. Ela foi transferida para a Cadeia Pública de Paulínia.

adminn

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